O número de mortes em Portugal atribuídas a fontes de água contaminada e a condições de higiene deficientes atingiu um novo e alarmante máximo em 2023, com 518 óbitos registados. Os dados, do Instituto Nacional de Estatística (INE) e divulgados pelo Jornal de Notícias esta quarta-feira, revelam que a taxa de mortalidade é a mais alta desde, pelo menos, 2010, afetando de forma desproporcional os idosos e as mulheres.
Um relatório baseado em dados do INE acende um alerta para um problema de saúde pública em Portugal. Em 2023, um total de 518 pessoas morreram devido a causas diretamente ligadas ao consumo de água insalubre e à falta de saneamento e higiene adequados, um número que representa um novo recorde e uma tendência crescente nos últimos anos.
Mortalidade em Sétima Velocidade: O Aumento Contínuo desde 2010
De acordo com os dados citados pelo Jornal de Notícias, a taxa de mortalidade por estas causas atingiu os 4,9 óbitos por 100 mil habitantes em 2023. Este é o valor mais elevado desde, pelo menos, 2010, ano em que a taxa se situava nos 1,1 óbitos por 100 mil habitantes.
A trajetória tem sido de subida constante: em 2022, foram registadas 472 mortes (taxa de 4,5), em 2021 foram 398 (taxa de 3,8), e em 2020 registaram-se 413 óbitos (taxa de 4,0).
Idosos, Mulheres e Bebés São as Maiores Vítimas
A análise demográfica dos dados revela que os grupos mais vulneráveis são os mais afetados. Cerca de seis em cada 10 óbitos (aproximadamente 60%) foram mulheres.
Em termos de idade, a esmagadora maioria das vítimas são idosos: 57% das mortes ocorreram em pessoas com mais de 85 anos, seguidas pela faixa etária dos 75 aos 84 anos, com 28% do total. A taxa de mortalidade no grupo com mais de 85 anos é particularmente chocante, atingindo os 78,6 óbitos por 100 mil habitantes. De forma preocupante, a terceira faixa etária com a taxa mais elevada é a dos bebés com menos de um ano, com 4,9 óbitos por 100 mil habitantes.
Cólera e Febre Tifoide Entre as Causas de Morte
A listagem de causas de morte consultada pelo JN, e que entra nesta codificação estatística, inclui doenças graves como cólera, febre tifoide, shigelose, outras infeções intestinais bacterianas e doenças parasitárias, todas diretamente associadas ao contacto com fontes de água insalubre ou a condições de saneamento e higiene deficientes ou inexistentes.
Especialistas Exigem Respostas e Ação Urgente dos Ministérios
Confrontado com estes números, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Bernardo Gomes, declarou ao JN ser “importante perceber se este fenómeno tem tradição territorial, nomeadamente em termos de padrões culturais de uso de água não controlada”, como poços ou fontes não tratadas.
Por sua vez, o hidrobiólogo Adriano Bordalo defendeu a necessidade de uma ação concertada e urgente. Na sua opinião, um trabalho conjunto dos ministérios da Saúde e do Ambiente “pode levar ao desenho de ações de correção”. “Se os estudos não forem feitos, não conseguimos melhorar a saúde da nossa população”, alertou o especialista.
Estes dados revelam uma realidade preocupante em pleno século XXI, apontando para a necessidade de maior fiscalização, investimento em saneamento básico e campanhas de sensibilização junto das populações mais vulneráveis.