Nuno Ribeiro revelou em tribunal que Adriano Quintanilha financiou e incentivou um esquema de doping entre 2020 e 2022
Nuno Ribeiro, ex-diretor desportivo da equipa de ciclismo W52-FC Porto, reconheceu esta segunda-feira, em tribunal, que o doping era uma prática regular na equipa, alegando que o esquema era financiado e promovido pelo proprietário da formação, Adriano Quintanilha, descrito como um “mestre da manipulação, que queria ganhar a todo o custo”,
As declarações de Ribeiro foram prestadas no âmbito do julgamento da operação Prova Limpa, que envolve 26 arguidos, incluindo antigos ciclistas da equipa. O processo decorre num pavilhão adjacente ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira. Nuno Ribeiro, vencedor da Volta a Portugal em 2003, solicitou para ser ouvido na ausência dos outros acusados, dizendo ter sofrido “pressões e ameaças” por parte de Adriano Quintanilha, também arguido.
Num depoimento emotivo, Nuno Ribeiro leu uma declaração onde admitiu que sabia do uso de substâncias dopantes, mas justificou a sua inação com a dependência económica do cargo que ocupava.
O ex-diretor garantiu que nunca obrigou ou incentivou diretamente os ciclistas para que “tomassem doping”, embora os incentiva-se a serem melhores “Não me senti um criminoso. Fui um fraco por ceder. Devia ter dito não e não [ao doping]. Sinto-me triste e arrependido. Sei o quanto errei e peço desculpa à sociedade, a todos, mas sobretudo aos meus atletas”.
Segundo Nuno Ribeiro, Adriano Quintanilha, antigo proprietário da equipa, financiou e incentivou um esquema de doping entre 2020 e 2022, sendo que os ciclistas consumiam substâncias dopantes de forma “regular durante toda a época desportiva”.
De acordo com Ribeiro, além do salário, Adriano Quintanilha entregava mensalmente dinheiro aos atletas para que estes adquirissem os produtos dopantes. As substâncias eram obtidas através de farmácias, da internet ou de outros meios.
Para ocultar os pagamentos, afirmou Nuno Ribeiro, Quintanilha utilizava justificações fictícias, como quilómetros percorridos ou despesas em almoços inexistentes, alegadamente registadas como “ajudas de custo”.
Nuno Ribeiro afirmou ainda que a maioria dos elementos da equipa tinha conhecimento do esquema e que Quintanilha era o principal financiador. “Nunca tive dinheiro para o doping, nem instiguei ao uso do doping. Foi e sempre o senhor Adriano que o fez. O senhor Adriano gastava milhares de euros a patrocinar essas práticas dopantes”, garantiu o ex-diretor desportivo.
O ex-patrão da W52-FC Porto era descrito como autoritário e manipulador. e usava “sempre o mesmo” discurso, dizendo que “O do quero, posso, mando e pago. Ele sabia de tudo, queria ganhar a todo o custo e dizia: ‘pago para ganhar e ganho’. Atirava isso à cara dos ciclistas e ameaçava. O ambiente era infernal”, afirmou Nuno Ribeiro.
Nuno Ribeiro revelou também que Quintanilha tentou por três vezes convencê-lo a assumir a responsabilidade total pelo esquema, oferecendo-lhe 2.000 euros mensais durante dois anos. O ex-diretor recusou, mas saiu das reuniões “cheio de medo”, devido às ameaças e humilhações.
O julgamento terá continuidade durante a tarde, com novas audições previstas.