As equipas do raramente se evidenciam pela beleza do jogo
De José Mourinho podemos esperar quase tudo — menos futebol de encantar. Depois de 25 anos a observar o estilo e as ideias das equipas orientadas pelo treinador português mais laureado de sempre, continua a ser pura ilusão acreditar que um conjunto comandado por ele irá praticar um futebol artístico, envolvente ou repleto de malabarismos técnicos. Seria o mesmo que acreditar que a Terra é plana, que as vacinas fazem parte de uma conspiração global ou que as alterações climáticas são invenção de cientistas excêntricos.
A verdade é que só alguém disposto a negar a evidência poderia esperar uma revolução na forma de jogar das equipas de Mourinho — neste caso, o atual Benfica. Ao longo de toda a sua carreira, raramente os seus conjuntos se distinguiram pela beleza do jogo. E, ainda assim, foram quase sempre marcantes, temíveis e vencedores. Porque, para Mourinho, o essencial nunca foi a estética, mas sim o resultado.
Basta recordar: haverá algum adepto do FC Porto que se tenha queixado da ausência de “nota artística” quando a equipa conquistou a Taça UEFA em 2003 e a Liga dos Campeões em 2004? Ou algum fã do Chelsea que tenha trocado o título inglês de 2005 — o primeiro em meio século — por uns quantos dribles a mais? Ou os do Inter de Milão que se lamentaram do futebol cínico e calculista que lhes trouxe a glória europeia em 2010? Poucos, muito poucos. Porque ganhar apaga qualquer falta de brilho.
E é precisamente nesta lógica que reside o ponto-chave das expectativas dos adeptos benfiquistas. Quem espera um Benfica exuberante e dominador em todas as vertentes do espetáculo, vai desiludir-se. Mourinho nunca foi — nem será — um apóstolo do futebol bonito. Mas o que se pode (e deve) esperar é uma equipa sólida, pragmática e tremendamente eficaz. Uma equipa que, com o tempo, saberá jogar bem — não necessariamente com poesia, mas com propósito.
Quando Mourinho fala em conquistar o “39 e o 40”, fá-lo com a convicção de quem conhece o caminho para chegar lá. Não é uma promessa vazia nem um exercício de fé: é a confiança de um treinador que há décadas transforma planos em títulos.
Pragmatismo e eficácia — é isto o que o Benfica pode esperar de Mourinho. E, convenhamos, se 26 troféus internacionais e nacionais não são prova suficiente de sucesso, então o que será? Muitos tentaram jogar bonito. Poucos, pouquíssimos, ficaram na história.










