Um antigo membro dos órgãos sociais da W52-FC Porto classificou esta sexta-feira de “ditadura” a gestão de Adriano Quintanilha na equipa de ciclismo, mencionando a “muita pressão para ganhar” que era exercida durante as competições, onde eram encontradas ampolas, seringas e comprimidos.
Maximino Pereira, ouvido como testemunha abonatória de Nuno Ribeiro, ex-diretor desportivo da equipa, no julgamento da operação Prova Limpa, que decorre no Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, afirmou nunca ter presenciado práticas de doping, mas admitiu suspeitas ao acompanhar a equipa em várias provas nacionais.
Conhecido no pelotão como Max, Pereira revelou que se demitiu em setembro de 2021 por “ser uma pessoa de bem”, razões familiares, e pelo “mau ambiente” na equipa. Sentiu “vergonha” ao ser confrontado pelo público com acusações de doping durante competições como a Volta a Portugal.
A testemunha relatou ao tribunal que nos hotéis onde a equipa pernoitava, ampolas, seringas e comprimidos eram armazenados no quarto da equipa, e os ciclistas os procuravam após as etapas. Questionado sobre a finalidade desses materiais, Pereira respondeu: “Devia ser para se doparem, mas eu nunca vi”, referindo rumores de doping na equipa e na modalidade a nível mundial.
Sobre se nunca procurou saber o propósito das seringas e ampolas, Maximino respondeu: “Nunca perguntei, nunca quis saber. Não tinha nada que me meter, era um assunto tabu, sigiloso e passava-me tudo ao lado. Ficava no meu cantinho.”
Adriano Quintanilha, dono da equipa e um dos arguidos no processo, era, segundo Pereira, responsável por todas as decisões, exceto a gestão desportiva, exercendo “muita pressão” sobre o staff e os ciclistas para vencerem, criando um “mau ambiente” e clima de intimidação. “Não me revia na gestão. Era tipo ditadura”, declarou Maximino, acrescentando: “Nós fugíamos do senhor Adriano.”
Na sessão, Pinto da Costa, arrolado como testemunha abonatória de Nuno Ribeiro, não pôde ser notificado pelo tribunal. Os 26 arguidos respondem por tráfico de substâncias e métodos proibidos, com 14 acusados também de administração de substâncias e métodos proibidos, incluindo Adriano Quintanilha, a Associação Calvário Várzea Clube De Ciclismo, Nuno Ribeiro, José Rodrigues, e ex-ciclistas como João Rodrigues, Rui Vinhas, Ricardo Mestre, Samuel Caldeira, entre outros.