Fernando Saul Depõe em Tribunal e Justifica Mensagens Polémicas nas Redes Sociais.
Fernando Saul, antigo Oficial de Ligação aos Adeptos (OLA) do FC Porto, começou esta terça-feira a prestar depoimento no julgamento da Operação Pretoriano, que decorre no Tribunal São João Novo, no Porto. No seu testemunho, Saul negou qualquer envolvimento na alegada tentativa de intimidação durante a Assembleia Geral do clube, ocorrida em novembro de 2023.
Perante o tribunal, Fernando Saul começou por esclarecer o seu papel no FC Porto: «Eu era funcionário do FC Porto, não fazia parte da claque. Fui funcionário durante 25 anos, era Oficial de Ligação aos Adeptos e o ‘speaker’ do Estádio do Dragão». Relativamente ao dia da Assembleia Geral, Saul afirmou: «Cheguei à Assembleia tarde, já estava tudo a sair do auditório. No Dragão Arena estive só com a Sandra Madureira. Estava tudo tranquilo. Eu fiquei na bancada Sul que era onde tinha lugares. As outras bancadas estavam cheias».
Questionado sobre o momento em que se apercebeu da confusão, Fernando Saul relatou: «Depois do discurso do Pinto da Costa ouviram-se insultos, apupos. Passados uns minutos eu vi que na bancada Norte houve um tumulto e vejo as pessoas a afastarem-se. Aquilo terminou, a Assembleia retomou e só na parte afinal há uma altercação com o senhor Henrique Ramos».
Saul descreveu ainda um episódio envolvendo Sandra Madureira: «Vi a dona Sandra a discutir com um adepto e eu conheço-a devido às minhas funções. Isso foi na bancada Sul. Eu só disse: ó Sandra deixa lá isso, anda embora. Ela estava a discutir por causa de umas mensagens e de uns vídeos, por causa das filhas. Eu disse para ela sair dali e ela saiu. Não chegou a existir qualquer problema». O antigo OLA garantiu também não ter estado reunido com Fernando Madureira na reunião magna: «Ele passou por mim uma ou duas vezes, mas não estivemos juntos».
Durante o interrogatório, foi apresentada a Fernando Saul uma mensagem que terá publicado nas redes sociais: «Vai levar tudo nos cornos. Aleixo e pessoal está avisado.» O arguido justificou esta publicação, afirmando: «Isso foi três meses antes, nem se sabia que ia existir Assembleia. Eu tinha um problema com o Henrique Ramos, que ele andava a difamar-me. Eu disse às pessoas para terem cuidado com ele. Isso era só para o senhor Henrique Ramos. Era só ele, mais ninguém. Eu disse ao ‘Macaco’ que o Henrique Ramos não era de confiança, ele era amigo dele.»
Relativamente a outras mensagens suas, como «Vai haver mocada, a Assembleia vai ser quentinha, vai dar merda», Fernando Saul explicou: «Isso foram mensagens que eu enviei para amigos. Era a perceção que eu tinha como Oficial de Ligação aos Adeptos. Desde há uns meses que existiam muitas páginas de apoio ao Villas-Boas a difamar a Direção, falavam muito nas redes sociais. Eu, mesmo não sendo da segurança, alertei que ia mais gente do que o costume e que devia existir mais segurança. Alertei o diretor de segurança e de marketing. Eu, pelo que via nas redes sociais, percebia que ia muita gente e que os ânimos estavam exaltados. Em várias páginas de apoio a Villas-Boas diziam para irem todos à Assembleia, para se filmar tudo, que o Porto dos mamões ia acabar».
Fernando Saul levantou ainda suspeitas sobre a continuidade dos diretores de segurança e de marketing do FC Porto: «Curiosamente os únicos diretores que continuam são estes (de segurança e de marketing). Isto é extraordinário. Não consigo perceber como é que um diretor de segurança que prepara jogos não acaba logo com a Assembleia quando percebeu que não cabia toda a gente no auditório. Podia ter evitado isto tudo. Mas deve ser por isso que ele lá continua».
O antigo OLA abordou também a candidatura de André Villas-Boas: «Toda a gente sabia que o André ia ser candidato, até pela máquina que já estava a funcionar. No dia anterior à Assembleia, o Villas-Boas fez um apelo para que se fosse à assembleia. Eu acho que ele quis chamar as pessoas dele para estarem com ele. Mesmo sendo funcionário do FC Porto existiam pontos (nos estatutos) que eu ia votar contra». Questionado sobre se falou com Fernando Madureira sobre a grande afluência à reunião magna, Saul admitiu: «Sim, falei com ele algumas vezes», negando, contudo, ter dado indicações sobre como deveriam agir.
Por fim, confrontado com uma mensagem sua num grupo de amigos onde escreveu «Levou nos cornos esse boi, mas dei-lhe lá dentro, ninguém viu», acompanhada de um vídeo de Henrique Ramos, Fernando Saul negou qualquer agressão: «Foi para me vangloriar aos meus amigos. Isso não aconteceu».