Inspetora do processo ‘Saco Azul’ visou Luís Filipe Vieira e o SL Benfica.
A sessão do julgamento do processo ‘Saco Azul’ arrancou com a inquirição a Maria Fátima Pires, uma das inspetoras da PJ que liderou a investigação, que deu conta da forma como se suspeitou de eventuais ilegalidades em torno da empresa Questão Flexível.
“O processo tem início com uma comunicação de operações suspeitas na conta bancária da empresa Questao Flexível. Estavam a ser feitos depósitos de elevador valor, que depois saiam em numerário. Isto em 2018. Procurámos saber que empresa era esta e a que título recebia estes créidtos e o motivo da saída. A Questão Flexível foi constituída pelo casal, a atividade era consultoria informática, mas só tinha dois funcionários. Tentámos começar por perceber se tinha instalações e onde funcionava. Percebeu-se que a sede era num imóvel da mulher, mas que este estava arrendado a outras pessoas. A sede não era ali, naturalmente. Nas diversas instituições bancárias a Questão Flexivel indicava outras moradas. Fomos lá, mas não havia placa a identificar que a empresa exercia ali atividade. A empresa parece que não tinha instalações. Veio-se a apurar que o único cliente era a Benfica SAD e Benfica Estádio. Haviam outros clientes de menor dimensão, mas associados a outras empresas de José Bernardes. Depois procurámos saber de onde vinham as transferências e percebemos que eram da Benfica Estádio e SAD, por serviços prestados. Por outro lado, ele justificou os levantamentos em numerário a pagamentos efetuados à empresa Capinvest, empresa de José Raposo. Mas esta era uma empresa com sede no Dakar, em nome de José Raposo. Entretanto, apurou-se que José Raposo estava em Portugal e era consultor imobiliário na Century 21, em Leiria, desde 2016. Era complicado um consultor imobiliário prestar algum tipo de serviço à Questão Flexível para receber estes pagamentos”, apontou a inspetora, dando conta do espanto que causou na investigação.
Posto isto, a PJ foi à procura de justificação para a relação entre a SAD dos encarnados e a referida empresa e Maria Fátima Pires explicou que, quando foi solicitado, o Benfica disse não ter disponíveis, naquela altura os contratos. Mas, efetivamente, eles existiam e tinham sido elaborados posteriormente à prestação do serviço, mas com outro intuito.
“O Benfica não os tinha. Do que tenho de cabeça, a explicação que deram foi que estavam em mudanças. Mas não tenho dúvidas que os contratos foram fabricados. Não tenho dúvida que os contratos foram fabricados. Quando os contratos foram fabricados, o Benfica ainda não sabia da investigação e são fabricados, pois estavam a ser pressionados pela gestora de conta para justificar avultadas transferências de dinheiro do Benfica e os levantamentos em numerário. O banco não denunciou logo esta situação. Fizeram várias transferências para a Questão Flexivel e José Bernardes estava a ser pressionado para apresentar uma justificação pelos créditos. Aquilo foi fabricado para dar uma justificação ao banco. A investigação foi iniciada em agosto de 2017 e eles foram fabricados em março de 2017”, apontou a inspetora.
A inspetora da PJ não tem dúvidas que a Capinvest não tinha qualquer atividade e que, dessa forma, era impossível passar faturas à Questão Flexível. O que é certo é que existiam transferências de uma empresa para outra. “As faturas eram de consultoria informática. Mas a Capinvest não tinha instalações. Desconhece-se os serviços prestados. Não existiam contratos que permitissem justificar os pagamentos. Na sequencia das diligências, o senhor José Raposo veio a assumir que foi o José Bernardes que pediu tudo”.