Argentino desempenhou a função de duplo-pivot no jogo de ontem frente ao Farense
No verão de 2012, Enzo Pérez regressou ao Benfica. A sua primeira passagem pelo clube não tinha sido bem-sucedida, tendo voltado ao Estudiantes de la Plata, onde se destacou, e, após o término do empréstimo, as expectativas de se afirmar na Europa eram praticamente nulas.
O Benfica tinha investido 5,5 milhões de euros na sua contratação. Dada a dificuldade de se impor através do drible e da velocidade no flanco direito, Jorge Jesus surpreendeu ao descobrir em Pérez qualidades para atuar como médio-centro. Ao longo de 117 jogos, Pérez marcou 10 golos e fez 19 assistências. Nunca mais voltou a ser extremo durante a carreira, seja no Valência, no River Plate, ou agora, aos 38 anos, novamente ao serviço do Estudiantes.
Já depois de adaptar Chiquinho, um médio ofensivo ou segundo avançado, ao duplo-pivot na época do título, Roger Schmidt surpreende agora ao colocar Benjamin Rollheiser, um extremo-direito canhoto também proveniente do Estudiantes (ao contrário de Pérez, que é destro), nessa mesma posição, após não se ter afirmado no River Plate. Mais uma coincidência interessante.
No primeiro teste, que pode ter sido motivado apenas pela ausência de alguns jogadores, como João Neves, e pelo excesso de opções noutras posições, Rollheiser marcou dois golos e teve 45 minutos de alta qualidade. O seu desempenho na construção e finalização do 5-0 foi notável.
Só Roger Schmidt saberá se isto foi algo planeado, um simples teste ou um ensaio dentro de um plano a curto ou médio prazo. Talvez o treinador alemão explique isso em breve. Por agora, só podemos analisar o que vimos: metade de um jogo de preparação, que naturalmente traz muitas incertezas.
Na verdade, Rollheiser não tem muita experiência na posição de médio-centro. Há registo de algumas poucas participações nesse papel, tanto no River Plate como no Estudiantes, mas sempre num meio-campo a três, como a unidade mais criativa.
Existem algumas semelhanças entre Pérez e Rollheiser: a capacidade de trabalhar sem bola e no pressing, a resistência à pressão adversária e a precisão no passe. Ambos têm a habilidade de transportar a bola em velocidade e finalizar. Até algumas dificuldades na definição mais próxima da baliza são comuns.
É natural que haja alguma estranheza com o posicionamento em campo e o tipo de coberturas que Rollheiser terá de fazer, além de que o perfil de Schmidt não inclui a mesma obsessão pela lapidação individual de uma adaptação como Jesus. No entanto, mesmo assim, Rollheiser poderá evoluir.
No confronto com João Mário, mais experiente, foi visível e favorável a Rollheiser. Mais uma vez, vale o que vale.
A conjuntura exige todas as ressalvas e cautelas, mas, se pensarmos bem, a ideia não parece tão descabida assim. E com tanta competitividade à frente, ainda mais com a permanência de Di María, a exibição de Rollheiser é tudo menos uma má notícia para ele. Devolvemos a palavra a Schmidt.