Pote, foi o protagonista do programa Alta Definição da SIC
Pedro Gonçalves, mais conhecido como Pote, foi o protagonista do programa Alta Definição da SIC, onde partilhou numa entrevista íntima a história de superação que o levou de um início difícil até ao estrelato no futebol profissional. O médio ofensivo do Sporting abriu o coração sobre a infância marcada pela perda do pai, os sacrifícios da mãe e o papel crucial do padrasto na sua formação pessoal e desportiva.
Uma decisão que marcou o início
Recorda com nitidez um momento decisivo da infância: “Quando tive o convite para ir treinar ao FC Porto e a minha mãe disse que não pois era muito novo mas prometeu que caso surgisse outra oportunidade não me ia cortar as pernas. Depois surgiu o Sp. Braga e deixou-me ir apesar de eu ainda só ter 12 anos”.
O amor da família sente-se nos gestos
O carinho dos que o rodeiam sente-se, diz, “Quando vou lá vejo que gostam de me abraçar e quando têm a oportunidade vêm ver jogos”
A perda precoce do pai
Pote perdeu o pai quando tinha apenas dois meses. “não tenho memórias dele sequer. A minha mãe disse-me que foi uma bactéria. Sentiu-se mal foi para o hospital e aí morreu mas também nunca procurei à minha mãe. Só tentei viver o dia a dia para não perguntar porquê… faz parte da vida, um dia temos de ir, faz parte da vida. Sei que era bombeiro, uma pessoa incrível que sempre tentou ajudar os outros e dizem que a minha personalidade é a dele. Eu sei que muitas vezes está a ver-me… sei que é o meu pai mas também tive um padrasto que fez tudo por mim e foi um pai para mim.Como é que a tua mãe superou esse momento?”
A luta da mãe pela estabilidade
Sobre a forma como a mãe enfrentou a perda, Pote é direto: “a minha mãe teve uma depressão. Sempre estive presente e tenho memórias dela a chorar e isso tornou-me mais forte no futebol para a ajudar a ter uma vida melhor.”
Memórias duras de Braga
A mudança para Braga não foi fácil. “Foi muito complicada. O Sp. Braga hoje tem umas condições incríveis mas no início passei muitas dificuldades. Eu andava sempre sozinho, precisava que me levassem a jantar…tinha de passar por um bairro ao complicado e lembro-me que uma vez estava a ver caderneta e apareceram dois rapazes que me queriam levar o cromo do Iniesta e depois perguntaram-me pelo telemóvel. Como não quis dar disseram que iam chamar mais uns rapazes para eu dar as coisas e foi aí que peguei no cromo do Iniesta e comecei a correr e nunca mais me apanharam. Vivia na casa da dona Tininha. Lembro-me que quando falava para casa dizia que estava tudo bem e não estava. Depois é que fui mais sincero e o clube ajudou-me mais, comecei a ter o apoio de mais pessoas.”
Alguma vez pensaste em desistir?
“Sim, pensei. Eu sentia que não tinha o apoio suficiente”
Força mental é importante?
“Sim, é. Eu adoro o futebol, não é só pelo dinheiro. Lembro-me de jogadores que tinham mais talento mas faltou-lhes a mentalidade de terem de ser alguém para ajudarem os seus. Eu tinha de ser alguém na vida, não havia o plano B, e foi isso que me fez diferente. No Valencia foi um ano complicado pois a FIFA não aceitava a minha inscrição uma vez que tinha 16 anos e só treinava e jogava amigáveis. Eu vivia na Academia e não podia sair de lá, só com email dos meus pais ou do empresário, e mesmo assim a Academia era a 30 minutos. Às vezes mandava eu o mail para poder sair.”
Distraído em campo… e fora dele
“Sim, sempre fui. Às vezes até em campo passam-me a bola e eu estou distraído com que está a acontecer à minha volta. Já perdi a carteira na casa de banho do aeroporto…hoje pensei que a carteira estava na Academia e ainda não sei dela, se calhar vou passar parte das férias a mandar fazer novos cartões.”
De avançado despreocupado a jogador completo
Por vezes pois gostava de ter a bola nos pés, marcar golo e fazer assistências mas agora estou muito focado em ajudar a equipa. Se o míster disser que tenho de defender durante os 90 minutos faço-o com o gosto pois adapto-me rápido às circunstâncias.