Míster Conceiçao volta a deixar avisos à navegação que nada está ganho…
Sérgio Conceição faz a antevisão ao FC Porto-Famalicão, da 2.ª mão das meias-finais da Taça de Portugal, marcado para quinta-feira às 20h30.
FC Porto parte para este jogo em vantagem. Que tipo de encontro espera nesta 2.ª mão?
“Não temos de pensar no jogo que passou, temos de pensar que temos de ganhar este. Isto é bem demonstrativo do nosso respeito pelo Famalicão, pelo que têm feito. Ainda agora em Alvalade, mudando oito jogadores, continuou com qualidade no seu jogo e fez uma partida bastante interessante. O que nos espera será um jogo extremamente difícil mais uma vez. O jogo mais importante para nós é o de amanhã, para aí estarmos no Jamor, que aí será o jogo mais importante, se lá chegarmos”.
FC Porto vem de um encontro com o Boavista em que jogou em inferioridade numérica. Preocupa o desgaste físico?
“Em relação ao João Mário preocupa, é o único que está fora. Os outros estão disponíveis. Seria estranho da minha parte achar que as questões físicas são importantes quando ao longo da época tivemos muitos jogadores de fora. É crítico quando os jogos se realizam com 72 horas ou menos de intervalo, mas não é o caso. Toda a gente está motivada, a perceber o jogo que é, e que nos pode permitir estar mais uma vez numa final de uma competição, a segunda em termos de importância no panorama nacional. Estamos focadíssimos no nosso jogo de amanhã”.
FC Porto tem tido algumas dificuldades em materializar a superioridade em ganhar os jogos com alguma naturalidade. Encontra explicações para isso? Mudança de chip ou pode ser fruto do cansaço, da maior pressão, da importância dos jogos?
“Vamos à procura de uma constante evolução individual e coletiva. Olhamos para isso, sem dúvida absolutamente nenhuma, e encontramos várias explicações. Eu tenho a minha e já partilhei com os jogadores. Por 1-0 ou 2-1 temos ganho e isso é o mais importante, mas se me perguntar se quero ganhar todos os jogos por 3-0 ou 4-0, é verdade. Mas não é possível, encontramos equipas – técnicas e em campo – de qualidade. Os jogos têm a sua história. Às vezes pensamos que os jogos mais complicados podem ter os resultados mais equilibrados e no final não é. O mais importante é o que acontece no final”.
FC Porto teve – e tem – três jogos de grande intensidade agora: teve o Boavista, Famalicão e depois Arouca. Em que medida é que esta fadiga influenciou na preparação?
“Preparamos um jogo de cada vez. Como disse há bocado, estamos habituados a competir de três em três dias praticamente o ano todo. Chegamos longe em todas as competições e os jogadores estão habituados a isso. É melhor competir a meio da semana do que não ter esse jogo. Temos um grupo de jogadores em que todos querem jogar e a gestão é feita durante um ano, não especificamente num jogo, de acordo com o estado físico, anímico dos jogadores e a estratégia para o jogo. Neste momento olho para o jogo de amanhã como o mais importante, e depois das 22h30, ou um bocadinho mais tarde, começarei a pensar no jogo do Arouca. Se pensamos em dois, acabamos por não estar como deve ser em nenhum. O mais importante é ganhar os jogos”.
Tempo de descontos no FC Porto-Boavista e timing do apito final… Opinião?
“Nem comento isso. Houve coisas muito mais importante e graves, sendo um homem do futebol, que aconteceram nesta jornada. Isso nem merece comentário”.
Está no FC Porto há seis anos e tem pulverizado recordes. Amanhã iguala os jogos de Pedroto. Considera-se o treinador mais importante da história do clube?
“Eu estou focado em ganhar. Isto não é qualquer tipo de demagogia da minha parte. Sinto-me tão focado em ganhar que, igualando os números do senhor Pedroto, que obviamente me deixa orgulhoso a mim, à minha equipa técnica e aos jogadores, acabo por desvalorizar esses números. Claro que no futuro talvez olhe e pense que são números interessantes, mas agora… Não quero fazer comparações e olhar para uma figura que está bem lá em cima. E depois estou aqui eu a trabalhar, a fazer pela vida para amanhã ganhar e para que nós, equipa, possamos dar aos adeptos, sócios e simpatizantes mais uma final no Jamor. Se o conseguirmos, ficamos muito satisfeitos. Agora estou de tal forma focado e com intensidade tão grande… Intensidade anímica, na forma como vivo as coisas tão apaixonado, assim como quero que os jogadores o façam. No nosso pensamento, está o treino de hoje e o jogo de amanhã”.
Intenso ciclo competitivo do FC Porto. Uma das vantagens é todo o plantel sentir que nesta fase pode ter uma oportunidade?
“Não dou nada a ninguém. Não penso: ‘Agora temos mais uma competição e vou dar minutos a este rapaz’. É porque merecem. Os que jogam têm respeito pelos que estão no banco, os que estão no banco têm de ter respeito pelos que estão em casa. E depois cabe-me a mim escolher. Poderá em Famalicão jogar um ou outro jogador dependendo da estratégia, mas olhando também para a qualidade do adversário. Prefiro ter um jogador fresco que me pode dar algo que outro de igual valia e caraterísticas diferentes com mais fadiga não dará. Vou meter os melhores para este jogo. Claro que no fim jogam sempre mais uns do que os outros, mas no final da época todos têm a sua importância”.
FC Porto está em vantagem na eliminatória, pode haver alguma gestão dos próprios jogadores tendo em conta o momento decisivo no campeonato? Consistência exibicional, esperava um FC Porto mais consistente nesta altura, sobretudo tendo em conta o jogo contra o Benfica?
“Se eu digo que é o FC Porto que está a jogar melhor, vão dizer que este artista… Que arrogância… Se digo que são os outros… Não vou responder. A forma das equipas muda de um jogo para o outro e já dei como exemplo o nosso jogo contra o Sporting, que depois fomos jogar contra o Rio Ave e foi uma catástrofe. Em relação à gestão… Não há gestão. Se quisermos gerir alguma coisa amanhã, acho que vai dar para o torto e dar para o torto é não irmos à final. Não tenho dúvida nenhuma, tenho um grandíssimo respeito pelo Famalicão, pelos seus jogadores de qualidade e que, neste momento, jogam bem organizados, são perigosos a atacar. São uma equipa muitíssimo interessante. Temos de olhar para a estratégia definida e vamos lá para dentro com os que achamos que dão garantias numa fase inicial. Em relação à consistência, obviamente que andamos sempre à procura disso a todos os níveis. Resultados, que as pessoas possam vibrar com um resultado volumoso, mas nem sempre é possível. Aproximamo-nos do final do campeonato e é normal que os jogos ganhem o seu peso e uma dimensão diferente, onde muitas vezes estar a ganhar por 1-0 ou 2-1… É mais a vontade de estar por cima do marcador do que ir à procura de outro golo. O público a certa altura estava contra o Boavista a certa altura, se calhar era mais o medo de perder do que a vontade de ganhar. Pode-se compreender. Numa fase diferente da época, de certeza que a resposta é outra. Se perguntar ao treinador o que é que nós, como clube e equipa, queremos, é fazer um 2-1 e procurar o 3-1, essa é a nossa postura desde sempre aqui”.
FC Porto vai entrar para ganhar. Isso não vai mudar nada na maneira como a equipa vai entrar? Que impacto isso poderá ter no Famalicão também?
“Postura do Famalicão? Não sei. Planeamos muito a nossa organização, a pressão, e o Famalicão no jogo em casa esticou constantemente o jogo no Cádiz, nos pontapés de baliza raramente saiu a jogar e amanhã se calhar entra com uma estratégia diferente. Não posso adivinhar. Na parte final do jogo jogaram com dois pontas-de-lança e amanhã não sei se entram com eles de início. Tenho de estar preparado para isso. Se queremos fazer uma gestão do jogo… Para já não devemos fazer porque isso seria pior para a equipa do que ser fiel. Se somos pressionantes, incisivos, que procura ferir o adversário, se baixamos essas caraterísticas normalmente sofremos mais. O adversário ganha confiança. Quando não temos bola, uns pensam umas coisas e outros pensam outra e é uma confusão. Vamos à procura de fazer golos e de não sofrer”.
Só uma vez nos últimos anos é que uma equipa bateu uma equipa fora do top-4 nesta fase. Este formato prejudica?
“Se fosse só um jogo, tínhamos ganho e já estávamos na final. Opinião sobre o formato? Tenho, mas não quero dar”.
FC Porto tem equipa experiente. Até que ponto podem fazer a diferença amanhã e ao longo da semana de trabalho?
“É interessante, ainda esta semana falámos disso. Mas aqui dentro não há qualquer tipo de pressão. Há aquela que faço sobre eles e já não é pouca. Há naturalmente o facto de estarmos a chegar às semanas finais e de decisão, mas com a tranquilidade que temos de trabalhar diariamente… Se pensarmos muito acabamos por cair. Temos de nos focar no trabalho diário, no jogo de amanhã, e depois treinar para o jogo do Arouca. Vejo miúdos às vezes de 20 e poucos anos que neste momento pensam um bocado no Fortnite e nas Playstations… O Pepe às vezes atira-se para o chão no jogo porque falhámos uma ocasião. Vive muito isto e eu revejo-me nisso, mas há outros miúdos que se calhar não vivem esses momentos. Falamos nisso e discutimos essa questão emocional, é algo decisivo e que trabalhamos. Por tudo o que é esta nova geração… Por um lado, queríamos que tivessem o brilho no olhar diariamente, mas isso há poucos. Essa paixão, friozinho na barriga que é tão bom para depois ir lá para dentro e meter-lhes um travão de mão e não o contrário. Não ter de dar dois estalos para os acordar…”.